domingo, 14 de abril de 2013

Dois meses depois...


O bom da vida é que ela pode mudar. Mudar completamente; em 350 graus – porque aí você não volta pro lugar onde estava. E você pode se surpreender. E como isso é bom!

Nesses exatos dois meses de São Paulo eu venho me surpreendendo a cada dia... A cidade não me dá tanto medo, quanto eu pensava antes. Não me aterroriza tanto e nem bate aquela vontade louca de correr pra casa – como aconteceu tantas vezes (e por diversos motivos) em Vitória. E eu não me sinto tão só.
Aqui, além dos amigos que já estavam morando aqui, eu conheci novas pessoas que quando estou com elas, tenho a sensação de trazê-las comigo desde um passado muito remoto, que não sei nem mais dizer onde está. Gente que me cativou e tornou São Paulo menos cinza, menos fria, menos grande (sei que a expressão é errada, mas é assim que eu preciso me expressar. Com eles, São Paulo deixa de ser um mar de concreto pra ser uma vilazinha querida e cheia de carinho). E embora sejamos diferentes, trabalhemos em áreas distintas e venhamos de lugares opostos, a gente se conectou por um mesmo laço: gente que precisa de amor em São Paulo. E vem dando certo...

Aqui não chove tanto quanto assim – ou pelo menos isso não atrapalha tanto minha vida como eu temia. E apesar de não me acostumar com o frio (e nem com a ideia de morar numa cidade fria), já não me importo mais de trocar o bar pela minha mantinha; a cerveja pelo vinho e o salto pela pantufa. Ou eu coloco um casaco mesmo e vou ver o que a cidade tem a me oferecer.

E ela me oferece tanto... Tanto e tão diferente! Como esse parece um mundo tão distinto do meu. Mas me agrada a ideia de poder transitar lá e cá, sem ter que escolher onde ficar. Sem ser isso, ou aquilo. E sendo eu, absorvendo o que os outros são e criando um novo eu sempre.

Aqui tudo parece tão possível, tão realizável... O mundo está a um passo daqui e você pode ir e voltar sem ao menos perceber que foi. Aqui, parece que você está sempre prestes a concretizar; a tirar o sonho do papel e torná-lo uma doce realidade. É a cidade grande que não te faz sentir pequenininho, mas sim um gigante tem pode abraçar o mundo.

Quem diria que após dois meses (apenas dois meses!) eu ia estar me rendendo a São Paulo? Não que seja aqui meu lugar; que vá ser aqui que eu crie minhas raízes... Mas é aqui que eu me vejo agora. Sem tristeza de olhar pra trás e ver o que ficou, o que passou e sem medo, ou ansiedade pelo o que virá. Apenas sabendo que aqui, agora, é o meu lugar.

O bom da vida é que ela pode mudar. E a gente também!


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O meu lado clichê

Generalizar, na minha opinião, é um dos grandes erros do homem. Sempre existe a exceção - e em boa parte dos casos a exceção é a maioria. E é exatamente isso que os clichês fazem: generalizam. Carioca é tudo marrento; todo mineiro é acolhedor; se é baiano, é alegre... Mas existem situações das quais você não pode escapar - e nem deve! - e acaba criando o seu próprio "eu" clichê.

Dias atrás eu estava lendo pela milésima vez um texto que trazia o velho discurso do "eu sou baiano, mas odeio acarajé e detesto axé". Sabe como é?! Já até virou clichê da turma do contra. E pensando sobre os haters do lifestyle baiano, eu pude me dar conta de quão clichê eu sou... 

De primeiro, eu só conseguia pensar nisso de ser mais do mesmo, de ser mais uma na multidão e de que era triste alimentar esse estereótipo que se criou a cerca do jeito de ser baiano. Mas depois... Depois eu vi que esse meu lado clichê é responsável por boa parte de quem eu sou hoje. Foi vivendo esse meu lado clichê que eu aprendi muita coisa; decidi o que valia levar comigo pra sempre e por onde eu for; criei uma identidade muito maior do que a que eu levo na minha carteira. 

Eu nasci, cresci e hei de morrer assim: uma baiana totalmente clichê. Que acha que um acarajé bem feitinho cura o pior dos males; que entra numa 'briga' ferrenha com qualquer capixaba pra defender a moqueca baiana; que vai atrás do trio e adora a sensação, o ambiente, a energia; que escuta um pagodão e não consegue ficar parada ao som daquela percussão - é involuntário!; que, mesmo sendo católica, pede a benção e entrega oferenda à Iemanjá no 2 de fevereiro; que ama o sotaque que tem e não acha graça na zombaria dos outros por causa disso; que se ofende quando falam a sério que baiano é preguiçoso - e prova por A+B que essa crença é errônea; que por mais que ache que o Caetano podia ficar calado às vezes, vai sempre defendê-lo; que ama rede e um dia de folga pra ir mergulhar no mar; que tem um profundo respeito por Dona Canô e que faz questão de receber bem qualquer pessoa - até mesmo aqueles que não merecem! 

É que eu sou dessas que "me bato, me quebro, tudo amor" e por mais que eu queira dar a volta no mundo e vê-lo girar, eu sei bem onde é o meu lugar!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A mudança de estado civil e a mudança de prioridades


Porque às vezes é preciso desabafar... Melhor pra fora, do que pra dentro, já dizia Shrek!

***
Assistindo pela milésima vez a episódios esporádicos de Sex and the City, me deparei com mais um que me fez pensar. No episódio em questão, uma amiga de Carrie – agora casada e com filhos – acha absurdo e extravagante o fato de Carrie comprar sapatos caríssimos, sendo que existem prioridades maiores nessa vida (como pagar a escola dos filhos). Mas essa mesma amiga, quando solteira, não achava um par de Manolo Blahnik um supérfluo.

Guardadas as devidas proporções, qualquer mulher solteira de vinte e poucos anos e que tenha amigas que já estão se casando pode constatar que a situação é real. Seja aqui, ou na Big Apple. Parece surreal como ser solteira, ter prioridades de solteira e levar a vida de solteira ainda choca quem já está a um pulo do altar, ou quem já está no “felizes para sempre”.

Tenho conhecidas – porque me recuso a chamar de amiga alguém que me faça esse tipo de julgamento – que não entendem porque reservo grande parte do meu salário para poder viajar; passar minhas férias andando, sem me preocupar com dinheiro, ou trabalho. Apenas me divertindo! Ou que eu decida, de última hora, ir ao show do Paul McCartney e gastar com isso uma pequena fortuna – para os meus padrões, vale ressaltar. Para elas isso soa tão imaturo, afinal, já estou na fase de pensar no futuro e no casamento.

Elas, que estão de casamento marcado, têm casa para comprar, festa para organizar – e pagar! - e uma família para construir. E, ao que me parece, isso se torna a prioridade mais urgente do mundo. Mas oras, se eu não vou me casar (pelo menos não tão cedo), porque as minhas prioridades também têm que mudar? Porque raios eu ia querer um terreno para construir agora, se posso viajar para qualquer lugar e construir o que mais gosto: um “eu” diferente?

Injusto! Trabalho tanto quanto as que suam para comprar uma casa bonita com quarto para o futuro casal de filhos e um quintal grande para os cachorros. Se prefiro comprar vários sapatos baratos (sou dessas que preferem quantidade!), ou uma passagem para além mar, ou ainda um ingresso para o show mais lindo da História (Paul, te amo!), é uma questão de prioridade minha. E ninguém pode julgá-la menos ou mais merecedora dos meus esforços.

Afinal, é tudo uma questão de escolhas. Se escolho ficar com minhas viagens e meus sapatos, é porque uma casa própria não me faz tanta falta assim. O mesmo digo das conhecidas que procuram loucamente a casa dos sonhos para começar uma vida a dois. Desde quando A exclui a importância de B, ainda mais quando eles estão em contextos tão diferentes?

Mas o que incomoda mesmo é aquela cara de piedade que elas fazem quando você diz que prefere as suas escolhas, a comprar uma casa. Você até consegue ouvir a vozinha da cabeça delas dizendo: “tadinha, fica desperdiçando a vida com essas coisas...”. Eu, por minha vez, treino bastante em frente ao espelho para não denunciar meus reais pensamentos quando escuto, pela milésima vez, que a fulana está olhando "umas casinhas bonitinhas, todas em bairros distantes, mas bem bonitinhas"!