Porque às vezes é preciso desabafar... Melhor pra fora, do que pra dentro, já dizia Shrek!
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Assistindo pela milésima vez a episódios esporádicos de Sex
and the City, me deparei com mais um que me fez pensar. No episódio em
questão, uma amiga de Carrie – agora casada e com filhos – acha absurdo e
extravagante o fato de Carrie comprar sapatos caríssimos, sendo que existem
prioridades maiores nessa vida (como pagar a escola dos filhos). Mas essa mesma
amiga, quando solteira, não achava um par de Manolo Blahnik um supérfluo.
Guardadas as devidas proporções, qualquer mulher solteira de
vinte e poucos anos e que tenha amigas que já estão se casando pode constatar
que a situação é real. Seja aqui, ou na Big Apple. Parece surreal como ser
solteira, ter prioridades de solteira e levar a vida de solteira ainda choca
quem já está a um pulo do altar, ou quem já está no “felizes para sempre”.
Tenho conhecidas – porque me recuso a chamar de amiga alguém
que me faça esse tipo de julgamento – que não entendem porque reservo grande
parte do meu salário para poder viajar; passar minhas férias andando, sem me
preocupar com dinheiro, ou trabalho. Apenas me divertindo! Ou que eu decida, de
última hora, ir ao show do Paul McCartney e gastar com isso uma pequena fortuna
– para os meus padrões, vale ressaltar. Para elas isso soa tão imaturo, afinal,
já estou na fase de pensar no futuro e no casamento.
Elas, que estão de casamento marcado, têm casa para comprar,
festa para organizar – e pagar! - e uma família para construir. E, ao que me
parece, isso se torna a prioridade mais urgente do mundo. Mas oras, se eu
não vou me casar (pelo menos não tão cedo), porque as minhas prioridades também
têm que mudar? Porque raios eu ia querer um terreno para construir agora, se
posso viajar para qualquer lugar e construir o que mais gosto: um “eu”
diferente?
Injusto! Trabalho tanto quanto as que suam para comprar uma
casa bonita com quarto para o futuro casal de filhos e um quintal grande para
os cachorros. Se prefiro comprar vários sapatos baratos (sou dessas que
preferem quantidade!), ou uma passagem para além mar, ou ainda um ingresso para
o show mais lindo da História (Paul, te amo!), é uma questão de prioridade
minha. E ninguém pode julgá-la menos ou mais merecedora dos meus esforços.
Afinal, é tudo uma questão de escolhas. Se escolho ficar com
minhas viagens e meus sapatos, é porque uma casa própria não me faz tanta falta
assim. O mesmo digo das conhecidas que procuram loucamente a casa dos sonhos
para começar uma vida a dois. Desde quando A exclui a importância de B, ainda
mais quando eles estão em contextos tão diferentes?
Mas o que incomoda mesmo é aquela cara de piedade que elas
fazem quando você diz que prefere as suas escolhas, a comprar uma casa. Você
até consegue ouvir a vozinha da cabeça delas dizendo: “tadinha, fica
desperdiçando a vida com essas coisas...”. Eu, por minha vez, treino bastante
em frente ao espelho para não denunciar meus reais pensamentos quando escuto,
pela milésima vez, que a fulana está olhando "umas casinhas bonitinhas, todas em
bairros distantes, mas bem bonitinhas"!
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