sábado, 4 de junho de 2011

Numa continuidade do dia de ontem...

Como protesto ao ato bárbaro e irresponsável do BME no dia de ontem, os estudantes se organizaram para sair em passeata hoje de novo, às 17h, em frente ao Teatro Universitário da Ufes. Hoje eu resolvi ir às ruas. Morrendo de medo, receosa de dar confusão e eu não conseguir me safar, de sobrar bala de borracha pra mim, de dar cadeia - mesmo que por algumas horas, mas fui. Eu, sempre tão apolítica, me senti tão revoltada e ofendida como cidadã com os abusos de ontem e com o apoio declarado do Governador Renato Casagrande à situação, que resolvi que o meu medo não iria reprimir o meu sentimento de revolta. A Alessandra, sempre fiel escudeira nessa vida, me acompanhou. O combinado era: a coisa ficou preta a gente foge! Cada um sabe dos seus limites... 

Chegando à Ufes encontramos pessoas queridas e uma multidão. Mais de 5 mil pessoas convencidas a fazer um protesto calmo, pacífico e sem transtornos para não perdermos a razão. Mas é difícil controlar a multidão. Quando o repórter d' A Gazeta tentava gravar um vt no local, ouviu-se um oníssono: AHÁ UHÚ, GAZETA MENTIROSA! Não teve uma pessoa que não gritou a frase de protesto. Foi tão intenso, que a equipe foi obrigada (obrigada, mesmo, no sentido de coagida) a se retirar do local. Infelizmente isso repercutirá negativamente e a quem olhava a distância, parecia insano. O protesto não visava agredir, ou ofender o jornalista, mas sim a rede de comunicação para qual ele trabalha. A reportagem que foi publicada no jornal A Gazeta na manhã de hoje relatava uma balburdia juvenil sem fundamento e que olhava para o próprio umbigo, causando apenas transtornos à população. Era visível a tentativa de jogar (mais) a população contra o protesto. O movimento não precisa de cobertura assim! O velho "se não ajuda, não atrapalha!". E sim, Voltaire disse que mesmo que não concorde com o que dizes, lutarei até a morte para defender o teu direito de dizê-lo. Que dissesse, mas não ali, na nossa cara e usando nossa imagem de fundo. Emissoras, como a TV Vitória - tão criticada pelos capixabas como um jornalismo despreparado e sensacionalista, que fizeram uma cobertura clara e o mais imparcial possível (mostrando pedrada de estudante, mas mostrando calavaria da PM), teve ajuda e apoio dos manifestantes para realizar seu trabalho. O jornalismo deveria se lembrar que não basta satisfazer o patrão. 

Saimos de lá em direção à Terceira Ponte. Tomamos as duas pistas da Fernando Ferrari por uns dez minutos, apenas pra mostrar que o que acontecia. Liberamos uma via e seguimos gritando. "Eu não acho, mas Casagrande acha que o povo precisa de bala de borracha" foi a primeira de muitas palavras de ordem. Os cartazes também protagonizaram bastante na passeata. Quando estávamos lá longe, pensando em subir a Ponte da Passagem, resolvi olhar pra frente e mal pude assimilar o que via: era um mar de gente! E ainda havia muito mais atrás de nós. Os que olhavam da calçada, dos prédios e carros foram convidados a seu unir ao movimento: VEM! VEM PRA LUTA, VEM. CONTRA O AUMENTO! E muitos foram aderindo a causa. Aos que preferiram não, avisávamos: VOCÊ QUE TÁ PARADO TAMBÉM É ROUBADO! Ônibus parado em ponto: PULA ROLETA!! PULA ROLETA!! E muitos pularam. 

A Terceira Ponte parecia não chegar nunca mais, eu juro! Eu e Alê, duas sedentárias convictas, nos arrastamos ao final do protesto. Nosso amigo Felipe, que foi caminhando com a gente - vai que desse merda? rs - era só o pique! Quando chegamos (eu, Alê e Felipe) lá as cancelas já estavam abertas. Uns dizem que foi a Rodosol, a empresa que cobra o pedágio, se adiantando aos manifestantes, outros que foram os manifestantes. Dane-se! Estavam abertas e pronto! Fizemos filas para deixar os carros passar. Eu, que já estava boquiaberta com o fato de estudantes, nunca levados a sério pela sociedade, conseguirem calar a grande mídia, vi uma das cenas mais lindas: 5 mil pessoas tomando a Praça do Pedágio e cantando o Hino Nacional. Essas mesmas 5 mil pessoas liberaram a passagem gratuita de inúmeros veículos pela Terceira Ponte. Aposto que pelo menos um motorista daqueles ontem reclamou do caos no trânsito e crucificou a manifestação. PODE PASSAR, QUE HOJE É DE GRAÇA!! O CASAGRANDE PAGA! Gritei até ficar rouca. 

O saldo foi positivo. Valeu a pena a caminhada infinita pra ver cada cena que vi hoje. Claro que tinha gente ali mais perdida que cego em tiroteio, gente que achou que era festa, gente desnecessária. Mas manifestação não é festa particular que se escolhe convidados. Ridículo gente manifestanto e tomando cerveja ou fumando maconha. Mas dentre os 5 mil, esses eram insignificantes e não se pode descaracterizar a luta por tal. Um manifesto pacífico, como vimos hoje é direito de todo e qualquer cidadão. Não importa sobre o quê se manifesta, ou se é contra ou a favor de alguma causa. É constitucional. 

E eu vou poder dizer, bem piegas, bem clichê e me submetendo ao julgamento alheio (olha lá, a alienada manifestando!) que eu vi o desrespeito humano e não me acomodei! FOI LINDO, VITÓRIA!






As fotos foram feitas pelo estudante de jornalismo da Ufes Yuri Barichivich - Facebook

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Era Só Mais Um Protesto...

Há pouco tempo eu comentei aqui o fato de presenciar a História acontecer. Hoje venho falar do meu medo de ver a História acontecer... Um protesto de estudantes reivindicando os preços abusivos das passagens de ônibus na Grande Vitória acabou em pancadaria, prisões, agressões e notícia em cadeia nacional. 

O protesto começou na manhã de hoje fechando uma avenida no Centro da cidade. Bem radical, verdade, atrapalhando a rotina de várias pessoas que precisavam circular pelo local. Mas a gente sabe que no nosso Brasil se não incomodar, a situação acomoda. Gente que reclamou de andar a pé, de ficar parado no trânsito dentro de ônibus, não vai ao menos se lembrar disso depois se o preço da passagem abaixar. A intenção era chamar, à força, as autoridades para uma rodada de negociações. As autoridades, representada pelo vice governador do Estado, Givaldo Vieira, do PT, enviaram o Batalhão de Missões Especiais - BME para reprimir a manifestação, que foi chamada de baderna por muita gente. Bala de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral foram arremessadas nos manifestantes - e não em diração à. A intenção era clara. Cães e armas eram apontados com orgulho pelos policias, que dias após invadirem Aracruz e desalojarem inúmeras famílias e matarem uma senhora, pareciam estar prontos pra outra. 

Transeuntes foram atingidos, manifestantes agredidos e por fim a multidão se dispersou. Mas ideia era continuar na Avenida Fernando Ferrari, em frente a Universidade Federal. Fechada a pista, não demorou muito a polícia já estava a postos. Os estudantes, mais uma vez agredidos - e muitos presos, tentaram refúgio dentro da Ufes, que por ser um lugar de responsabilidade Federal, não permite entrada e ação da Polícia Militar. Mas esse pequeno "detalhe" não segurou os policiais de, pelo lado de fora da Ufes, jogarem bombas e atirarem para dentro da Universidade. O reitor em exercício, Reinaldo Cantoduccate, preocupado com a segurança no local - no  Teatro Universitária havia inúmeras crianças que participavam de um evento - tentou diálogo. Levou uma bala de borracha na bunda.  

O protesto seguiu para Terceira Ponte e os manifestantes tiveram a companhia agradável da ROTAN - Rondas Ostensivas Tático Motorizadas, que não tinha morro pra invadir e resolveu cercar a Praia do Canto, por onde o protesto também passou - e foi aplaudido por moradores. A cavalaria recebeu alguns protestantes perto casa do Governador, Renato Casagrande, que achou que ficar em Brasília era mesmo uma boa opção. 

Vinte sete pessoas foram presas: estudantes e até mesmo um jornalista (Henrique Alves, jornalista do Século Diário). Inúmeros foram feridos, inclusive jornalista d' A Tribuna. A cobertura televisiva foi previsível e até mesmo desnecessária, já que na internet post's, fotos, vídeos e depoimentos ofereciam um material vasto de informação sobre a barbarie. 

Autoridade nenhuma se manifestou sobre o acontecido. Qualquer notícia vinda do lado de lá, foi da assessora do Governador, Rita Paterlini, que pela sua página no twitter: https://twitter.com/ritapaterlini, ironizou a manifestação. Mas como assessor é ponte, não é fonte ( Salve, salve Martinuzzo!), a gente espera seu assessorado cair se manifestar. 

Muita coisa se viu, ouviu e leu nesse dia, mas de todas, a que mais me chamou a atenção foi a declaração do professor de filosofia Maurício Abdalla: 

"O vice-governador Givaldo Vieira foi meu amigo, militante e estava conosco quando paramos a cidade com mais de 10 mil pessoas contra o aumento das passagens em 1988. Hoje a PM, sob seu comando, agrediu violentamente uma manifestação igual, ferindo estudantes. Tenho orgulho de dizer que minha filha estava lá. E o meu ex-amigo, agora manda a polícia atacar minha filha que, graças a Deus, seguiu os meus passos e não o dele. Enquanto ele não se retratar e punir o comando da PM, estará na lista de meus inimigos."

Tempos difíceis, minha gente. Tempos difíceis... E VIVA A DITADURA, ops!! DEMOCRACIA!