quinta-feira, 2 de junho de 2011

Era Só Mais Um Protesto...

Há pouco tempo eu comentei aqui o fato de presenciar a História acontecer. Hoje venho falar do meu medo de ver a História acontecer... Um protesto de estudantes reivindicando os preços abusivos das passagens de ônibus na Grande Vitória acabou em pancadaria, prisões, agressões e notícia em cadeia nacional. 

O protesto começou na manhã de hoje fechando uma avenida no Centro da cidade. Bem radical, verdade, atrapalhando a rotina de várias pessoas que precisavam circular pelo local. Mas a gente sabe que no nosso Brasil se não incomodar, a situação acomoda. Gente que reclamou de andar a pé, de ficar parado no trânsito dentro de ônibus, não vai ao menos se lembrar disso depois se o preço da passagem abaixar. A intenção era chamar, à força, as autoridades para uma rodada de negociações. As autoridades, representada pelo vice governador do Estado, Givaldo Vieira, do PT, enviaram o Batalhão de Missões Especiais - BME para reprimir a manifestação, que foi chamada de baderna por muita gente. Bala de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral foram arremessadas nos manifestantes - e não em diração à. A intenção era clara. Cães e armas eram apontados com orgulho pelos policias, que dias após invadirem Aracruz e desalojarem inúmeras famílias e matarem uma senhora, pareciam estar prontos pra outra. 

Transeuntes foram atingidos, manifestantes agredidos e por fim a multidão se dispersou. Mas ideia era continuar na Avenida Fernando Ferrari, em frente a Universidade Federal. Fechada a pista, não demorou muito a polícia já estava a postos. Os estudantes, mais uma vez agredidos - e muitos presos, tentaram refúgio dentro da Ufes, que por ser um lugar de responsabilidade Federal, não permite entrada e ação da Polícia Militar. Mas esse pequeno "detalhe" não segurou os policiais de, pelo lado de fora da Ufes, jogarem bombas e atirarem para dentro da Universidade. O reitor em exercício, Reinaldo Cantoduccate, preocupado com a segurança no local - no  Teatro Universitária havia inúmeras crianças que participavam de um evento - tentou diálogo. Levou uma bala de borracha na bunda.  

O protesto seguiu para Terceira Ponte e os manifestantes tiveram a companhia agradável da ROTAN - Rondas Ostensivas Tático Motorizadas, que não tinha morro pra invadir e resolveu cercar a Praia do Canto, por onde o protesto também passou - e foi aplaudido por moradores. A cavalaria recebeu alguns protestantes perto casa do Governador, Renato Casagrande, que achou que ficar em Brasília era mesmo uma boa opção. 

Vinte sete pessoas foram presas: estudantes e até mesmo um jornalista (Henrique Alves, jornalista do Século Diário). Inúmeros foram feridos, inclusive jornalista d' A Tribuna. A cobertura televisiva foi previsível e até mesmo desnecessária, já que na internet post's, fotos, vídeos e depoimentos ofereciam um material vasto de informação sobre a barbarie. 

Autoridade nenhuma se manifestou sobre o acontecido. Qualquer notícia vinda do lado de lá, foi da assessora do Governador, Rita Paterlini, que pela sua página no twitter: https://twitter.com/ritapaterlini, ironizou a manifestação. Mas como assessor é ponte, não é fonte ( Salve, salve Martinuzzo!), a gente espera seu assessorado cair se manifestar. 

Muita coisa se viu, ouviu e leu nesse dia, mas de todas, a que mais me chamou a atenção foi a declaração do professor de filosofia Maurício Abdalla: 

"O vice-governador Givaldo Vieira foi meu amigo, militante e estava conosco quando paramos a cidade com mais de 10 mil pessoas contra o aumento das passagens em 1988. Hoje a PM, sob seu comando, agrediu violentamente uma manifestação igual, ferindo estudantes. Tenho orgulho de dizer que minha filha estava lá. E o meu ex-amigo, agora manda a polícia atacar minha filha que, graças a Deus, seguiu os meus passos e não o dele. Enquanto ele não se retratar e punir o comando da PM, estará na lista de meus inimigos."

Tempos difíceis, minha gente. Tempos difíceis... E VIVA A DITADURA, ops!! DEMOCRACIA!

3 comentários:

Priscilla disse...

Infelizmente a população que deveria ver mesmo o massacre (segundo esse mês) não tem acesso as redes socias para averiguar os videos que não deixam mentir.

Billie Wonder disse...

foi ridícula a brutalidade desigual da pm contra os estudantes. estávamos lá de dentro filmando e via-se que ninguém fez nada demais pra tomar tanta porrada gratuita...

Mariana Anselmo disse...

Não se trata mais de preço de passagem, de passe livro, do caso de Aracruz.... A questão agora é muito maior: é liberdade! De expressão, de ir e vir, de cobrar das autoridades respostas, ações e um posicionamento!