quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Até mesmo no meu silêncio eles aprenderão sobre e com você!!

Meu vô,

Ah, quanto tempo! Cinco anos voam... Mas aqui dentro parecem se arrastar! Por aqui as coisas vão indo... Às vezes bem, outras nem tanto. Muita coisa mudou. A Carla Perez, que você bem que gostava de ver rebolar, nem dança mais no É o Tchan. E ‘pelinha’, então?! Nem se acha mais pra comer! Se bem que tô morando em Vitória, né? Lá tudo é diferente...


Tô estudando jornalismo, vô! Não tem jeito, tá no sangue! É, mais uma geração e o Direito não vingou mesmo. E acho que nem os meus irmãos se embrenharão também...
Ah! Pipoca doce ainda existe, mas não tão crocrantes como as de antes. A casa também mudou, vô. E o violão do pai não é mais o mesmo. Não tem mais motinha pra você puxar a gente e a rodoviária (onde você vendia seu relógio pra ir embora quando emburrava) agora está muito mais longe!

Sabe, vô, eu não sei o que dói mais: a perda ou a sensação de “eu podia ter aproveitado mais, aprendido, abraçado, e dito mais ‘eu te amo’”. A vida a gente não explica. Simplesmente se vive, ri, e supera. Ou talvez não...

Mas hoje, do nada, eu pensei: E OS MEUS FILHOS???

Fala, vô, fala quem vai ensiná-los que deixar uma pessoa sozinha à mesa não é educado? Quem vai ensinar a tapear a empregada na hora do almoço e comer pelinha e esconder o saquinho embaixo do colchão? Quem ensinará a interpretar a Bíblia para Crianças, e a ser uma pessoa dos livros?

Ah, vô, eu terei que ensiná-los tudo que aprendi com você. Mas não o farei sozinha. Vou colocá-los no carro, botar Raul no último volume (porque, sim! Eles escutarão Raul!), e seguir para Itanhomi.

Lá eles aprenderão sobre um homem que fez de um pedreiro, um advogado (não que a primeira profissão seja menos importante. A grandeza está no incentivo a aprendizagem!), que soube recomeçar quando viu o Ginásio Artur Bernardes lhe escorrer pelas mãos, que ensinou, ajudou e tráz lágrimas e saudades a muita gente.
Aprenderão sobre você!

E estou certa de que farão a mesma promessa que eu fiz:

Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você....
E lá se vão 5 anos,
Mas se fecho os olhos
O tempo se faz parecer ontem.
Ecoa pela casa um andar arrastado,
Passeia pelos lados um rosto marcado
De toda labuta, de um longo passado.

É moda de viola esse som;
A leitura da Palavra pros pequenos;
E uns mimos pros entes queridos.
É a pura tradução do bem querer
Estar assim com você.
Sentimentos que só hoje entendo o porquê.


Mas a idade é inevitável.
O tempo vem para todos,
E o fim já mora ao lado.
Histórias de um tempo distante
Misturam-se com as do atual instante.
E a sábia memória fica com o que é mais importante.


Mas tem coisas que o tempo não tira:
Não deixe que ninguém só à mesa,
Leia o quanto puder e o teu reflexo no espelho é realmente teu retrato.
Já sua imagem, aos poucos se desfaz.
Parece que lá no fundo das lembranças jaz.
És eterno. O que a fotografia não refaz?


Hoje lhe dedico essas palavras,
Que num pranto as juntei.
Trocando por miúdos: Saudades.
Foi o presente que Deus me deu e eu sei:
Não fiz de tudo, e nem de todo aproveitei.
Mas saibas que és o avô que tanto amei.

'Se gostar, descasque essa idéia!

Um comentário:

D. Martins disse...

Oxi, coisa linda demais. Tudo que tu pensa, me fez pensar a saudade apertada e doída do meu avô, de tanta coisa que me ensinou.. e qdo paro pra pensar, não lembro a primeiro instante de tudo, mas qdo coloco o coração pra bater, ai sim, lembro de cheiros, sensações, sabores, sons!

Me fez sentir saudade de tudo, de casa, do meu filho, e meu filho sim tem que aprender o que eu aprendi com o meu avô, assim como o seus aprenderam contigo.

Bonito por demais isso!
bejO Nêga! ;)

PS: E BOA VIAAAAAGEM!!! ESTAREI NA TORCIDA!! SUA COISA! =)