Work então, né?

Desde o terceiro dia em Vegas a busca pelo emprego perfeito começou. Preenche application daqui, de cá, de lá... Era um tal de "te ligo até sexta pra te dar uma resposta", de "vamos analisar seu currículo" e de "não estamos contratando agora, mas preenche o application que sempre surge alguma vaga", que depois de um tempo a gente era gato escaldado e não se iludia mais com essa falação. O tempo passava, o desânimo batia e o dinheiro foi acabando...

Depois de quase arrancar a calça pela cabeça, a gente apelou pra Iris Impression, popularmente conhecida entre as intercambistas como "a saia". Ninguém, e eu digo NINGUÉM, que trabalhava lá gostava. Muito do oposto... Mas resolvi tentar a sorte. U$ 9.00/h não é de se recusar. Depois de passar por testes, gravar discursinho e fazer demonstração para o futuro chefe (que me dava medo, por sinal...), fui contratada! Dia 27 de dezembro foi meu primeiro de treinamento. A mamãe disse que foi presente de grego de aniversário. O.o

Já no primeiro dia eu escrevi 12 páginas de anotações: preços, tipos de saias, o que dizer para o cliente se ele achar o produto caro, todos os elogios que o produto merecia (ou não...), como fazer a venda, como aumentar a venda, como negociar o preço... E eu fui vendo que o buraco era beeem mais embaixo do que eu pensava... Pelo menos, no final do dia o discurso inicial estava na ponta da língua: "Hi, lady! May I show you how it works? It's a reversible skirt, you can use it in both sides. Each one gives you a completly different look. More than 100 ways to wear you with one dress. If you wanna go out to dinner, for exemple, you just do it (aí você amarra o trapo a saia) and that's it: you have a beautiful one shoulder dress. Or doing like this, you have a cover to go to the beach..." E assim ia engambelando o coitado...

Aí você me pergunta: Mariana, negócio bom esse de 100 maneira de usar um vestido, né? É bem da verdade, mas a gente que vende só aprende a fazer uns dez... A melhor parte é quando o chefinho dizia "essa saia é linda, é sexy, é fashion.." e eu pensava "é brega, é um trapo... Que diabo de combinação de estampa é essa?" O melhor mesmo era o preço... 100 dólares a bichinha custa! Mas a gente pode vender até por 50,00 e duas vezes ao dia por 45,00. Ou seja, ela devia sair pra ele por 5,00 dólares de pronto! Na beira da praia você compra isso por 20 reais e usa de canga liiinda! Mas jamais nesse mundo em uma festa... Eu me lembro muito bem o que me passou pela cabeça após minha primeira venda: depois que eu convenci essa mulher a usar essa saia no noivado do filho dela, agora é certo: eu vou pro inferno!

O pior não era não acreditar no produto, ou achar breguíssimo, ou caro, ou detestar o chefe com toda a força do seu ser (porque ele foi conseguindo seu espaço no meu muralzinho do "vá pro inferno!"), ou ter tomado nojinho das isrelenses que conseguiam vender aquela coisa feia (porque monstruosa mesmo era o kakkoii) por 100 mangos, ou mesmo receber ligações de hora em hora perguntando o qaunto você vendeu. Chato mesmo era ter que implorar para alguém parar e ver você fazendo aquela pataquada... APENAS! E é assim, minha gente: você roda aquela saia loucamente e vai falando ao mesmo tempo... Pode parar não, porque tem que agarrar cliente no laço! E como diria Sir Eddie: se o cliente não para é porque você não soube demonstrar direito; se ele não compra é porque você nãou soube convencê-lo...

A gente faz bem parecido com o que ela faz no vídeo, tirando essa alegria e esse sorriso que
não sei de onde ela tirou

Foda era ter que dizer que o designer da mardita era brasileiro, porque peraí, né minha gente... A gente é pobre, mas é limpinho e tem bom senso!

Mas aí a gente cai na rotina: zera hoje, vende uma saia só amanhã, leva esporro pa começar bem o turno, é mandada pro kakkoii depois, zera de novo - pra não perder o costume, mais esporro pra ele não perder o costume, ganha mais treinamento (porque a esperança é a última que morre), zera pela enézima vez... Até que um dia chega o gran finale: demissão! Quase chorei de tanta emoção e felicidade no caminho de casa. Mas aí eu lembrei que eu estava desempregada de novo e todo aquele lenga lenga iria recomeçar...

Mas a vida é boa porque te encher de surpresas...  Em um domingo desempregada, na segunda contratada =)